Clube 12 de Outubro de Pedras Grandes, comemora 115 anos de história. (Fotos)

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Traços culturais de Pedras Grandes, do apogeu ao renascimento através do resgate da sua história

O clube 12 de Outubro é uma das mais antigas sociedades recreativas do sul catarinense fundada em 12 de outubro de 1907, durante o período considerado auge da atual cidade de Pedras Grandes, cuja colonização italiana iniciada em 1877 em Azambuja representava, à época, importante protagonismo na vida social da região.

A comemoração do aniversário de 115 anos da tradicional sociedade traz lembranças da história do Município e de acontecimentos marcantes como os bailes de debutante, carnavais e encontros festivos que tiveram lugar no imponente prédio cercado de janelas de onde se observava a vida cotidiana e a passagem dos comboios da ferrovia.


A FUNDAÇÃO DO CLUBE 12 DE OUTUBRO

Nos primeiros anos do século XX, a vila de Pedras Grandes, então distrito de Tubarão, era um importante polo econômico do sul do estado de Santa Catarina, abrigando no território desbravado pelos imigrantes italianos diversos estabelecimentos comerciais, fábricas, cantinas e outros tipos de negócios
agropecuários.

As três colônias da região – Azambuja, Grão-Pará e Nova Veneza – haviam atraído milhares de europeus, que passaram a produzir vinho, queijo, salame e uma sorta de produtos animais e agrícolas que precisavam ser escoados para centros maiores. Todos os caminhos levavam à Pedras Grandes, destino dos colonos que transportavam suas mercadorias em carros de boi até a estação de cargas da Ferrovia Tereza Cristina. Pedras Grandes vivia a sua época de ouro, com altos índices de progresso e desenvolvimento.

Neste contexto, um grupo de cidadãos decide formar uma sociedade para estimular as atividades culturais no município, a exemplo do que havia ocorrido em Laguna com a fundação do Clube Blondin em 15 de novembro de 1887, do Clube Congresso Lagunense, inaugurado em janeiro de 1889, e em Tubarão, com o Clube 7 de Julho, fundado em 1899.

Embora os italianos e seus descendentes representassem à época parcela significativa da população da área, o primeiro clube da cidade não registrou na sua primeira diretoria sobrenomes de imigrantes.

Provavelmente, segundo inúmeros relatos, pelo fato dos colonizadores viverem nesta época em suas próprias comunidades, praticamente isolados, razão pela qual a língua e a cultura original se mantiveram intáctas por pelo menos meio século desde a chegada das primeiras levas de colonizadores.

Corroborando com esta tese, verificamos os nomes e sobrenomes da primeira diretoria do Clube 12 de Outubro, de 1907: “Boaventura Costa Mello (Presidente), Platão Guimaräes (Vice-Presidente), Glyto Amante (1° Secretário), João Tomaz de Souza (2° Secretário), João Cardoso Rocha (Tesoureiro), João Luciano Pereira (Procurador) e Pedro Alipio da Conceição (Zelador)”. Tal nominata consta de um livreto que pertenceu a Afonso Zanella e hoje integra o acervo da família, impresso na Tipografia Cruzeiro, de Tubarão.

O documento registra os estatutos do Clube Recreativo 12 de Outubro aprovados em Assembleia
Geral de 14/07/1912 e reformados em 12/10/1942 e em 25/01/1947, com os seguintes objetivos: “O Clube 12 de Outubro, fundado nesta vila de Pedras Grandes em 12 de outubro de 1907, é uma associação de Ordem puramente moral, composto de ilimitado número de sócios de ambos os sexos e tem por fim:

a) Proporcionar aos seus associados toda a sorte de diversões licitas, como sejam:
dança; jogos de bilhar e outros não proibidos;

b) Criar e manter uma biblioteca para uso exclusivo de seus associados;

c) Organizar quando possível, um Grupo Dramático;

d) Estabelecer preleção”. O mesmo estatuto exige para admissão de sócios que o candidato não seja menor de 18 anos, que não sofra de moléstia contagiosa e que a sua conduta seja irrepreensível.

O Clube 12 consolida-se como sociedade muito bem freqüentada, ganhando novos sócios. Os eventos realizados no clube situado em um casarão com amplas janelas, bem próximo dos trilhos da Estrada de Ferro, no centro de Pedras Grandes, repercutem em toda região.

Em 1941, foi impresso na Tipografia Verani de Orleans, convite para um grande baile. “A Comissão abaixo assinada tem a honra de convidar-vos e a exma. família para o baile que terá logar em 17 e 18 do andante, nos salões do Club R. 12 de Outubro, desta localidade, gentilmente cedidos pela sua diretoria. Certas de que não deixareis de abrilhantar com vossa honrosa presença, somos gratas.

Pedras Grandes 12-5-941. Pela Comissão: Iracema Angelo e Esterlita Speck”. Se nos primórdios da sociedade a presença italiana não era tão significativa, em janeiro de 1947 ganha destaque no elenco de diretores os italo-brasileiros, conforme verifica-se nos sobrenomes: “José Cunha (Presidente), Affonso Zanella (VicePresidente), João Zabot (1° Secretario), Rubens Ghisi (2° secretário), Lauro Speck
(Tesoureiro), Orlando Ghisi (Diretor-Fiscal), Alfredo Acordi (Procurador)”.

O BAILE DOS 50 ANOS
Denominado na sua fundação como “Club Recreativo 12 de Outubro”, tal tal inscrito na fachada do prédio, o primeiro clube social de Pedras Grandes comemorou o 50º aniversário de fundação com um grande baile no dia 12 de outubro de 1957.

O convite para o evento fazia alusão à fundação do clube, em 1907: “Nesta data começamos! Muito de sonho, muito de arrojo. Os lampiões à querosene e os convites manuscritos davam um sabor romântico às nossas festas. Relíquia social de Pedras Grandes”.

Em outra página do convite impresso, lê-se a mensagem em boa escrita: “A diretoria do Clube Recreativo 12 de Outubro, sentir-se-á sumamente honrada, com a presença de V. S. e Exma. família, ao Baile do 50° Aniversário de Fundação desta sociedade, a realizar-se nos seus salões, no dia 12 de outubro próximo, com início às 21 hs. abrilhantado por um excelente jazz.

PEDRAS GRANDES, SETEMBRO DE NOTAS – TRAJE: PASSEIO. DIA 13: GRANDIOSA “SOIRÉE”

O baile de aniversário foi organizado pela diretoria que em 1957 era assim constituída: José Cunha (Presidente), Rubens Ghisi (Vice-Presidente), Secundino L dos Santos (1º Secretário), Aquiles Piuco (2º Secretário), Darvim Marcon (Tesoureiro), Carlos Pinto (Diretor Fiscal) e Rodinei Sandrini (Bibliotecário).

“Nosso clube nossa casa: Do berço herdou a marca da rebeldia, da tenacidade.
Olhou, embevecido, a nossa paisagem e cresceu. Passaram os anos. Caminhamos sempre para frente! Mais e mais! E, aqui estamos hoje! Encarando com coragem o amanhã e recordando saudosos o passado”, saudava o convite daquele que foi um dos maiores bailes da história da sociedade.
O MEMORÁVEL BAILE BRANCO DE 78 Na década de 70, já emancipada de Tubarão, Pedras Grandes elegia somente vereadores, já que os prefeitos, por se tratar de uma estância hidromineral, eram
indicados pelo regime.

A sociedade pedras-grandense integrava-se com a tubaronense, onde os jovens iam estudar na antiga FEESC. Eis que naquele ano de 1978, passados quatro anos da terrível enchente de 74, a diretoria então presidida por Sérgio Goulart e com o vice Adelfo Filippi, mais tarde eleito prefeito da cidade, convidaram para o baile de debutantes no qual seriam apresentadas à sociedade as belas e graciosas jovens do lugar.
O convite para o baile branco exaltava o brilho das festas no clube. “Com a tradição e categoria de um dos mais belos clubes do sul de Santa Catarina, a S. R. 12 DE OUTUBRO viverá no dia 11 de novembro do corrente, uma de suas brilhantes noites sociais para apresentar as debutantes de 1978. Belas e graciosas, desfilarão com sua juventude em seu primeiro longo.

Altamente honrada sentir-se-á esta Sociedade, com a presença de V. S. e distinta família, para maior brilhantismo deste acontecimento”. Trajando um belo smoking, o mestre de cerimônia foi Ângelo Alberton, o pai do ator Rodrigo Hilbert Alberton, de Orleans.

A patronesse do baile de debutantes foi a senhora Zoe Correa Freta, sendo padrinhos de honra o prefeito de Tubarão, Paulo Osni May e a primeira dama Ilza Fretta May. O baile que iniciou às 23 horas, sendo obrigatório traje social, foi abrilhantado pela Orquestra Grupo Consagração. Antecedendo o evento, foi
celebrada no dia 8 de Novembro a Missa das Debutantes na Igreja Matriz às 19,30
hs.

“As debutantes desfilam na passarela lado a lado do pai que as conduz, ninguém sabe dizer qual a mais bela tal graça e encanto de vocês transluz. Mas este quadro para mim revela muito além da beleza que traduz o contraste entre a brisa e a procela ou entre a noite o ressurgir da luz. Deus lhe pague momento da ternura que esculpiram no velho coração e lhes derrame graças lá da altura e que lembrem mais
tarde as suas filhas, que quando terna e pura uma emoção”, dizia o convite.

Debutaram em 1978 as seguintes jovens: Angela Marcon, Adriana S. Felippe, Angela M. de Faveri, Andricélia da Silva, Claudinete Querino, Cleuza Goulart, Clenir Roussenq, Dione Felipe, Lucia Helena Rodrigues, Marizeti Bardint, Mariza Fraga, Maria da Glória Mazieiro, Nazarete Mazielro, Rita de Cassia Sachett, Rosélia Nascimento, Rúbla Geremias, Rosimar Bento, Roselir Bento e Rozinete Nascimento.

NAQUELE TEMPO, OS CARNAVAIS ERAM DIFERENTES

Os bailes de Carnaval do Clube 12 marcaram época. Vinha gente de Tubarão, Florianópolis, Orleans e muitas cidades para brincar e se divertir. Nas cinco noites, se apresentavam bandas de fora da cidade. No domingo havia um baile infantil.

Marilene Zanella recorda que, como era um baile chique, as pessoas ficavam olhando da rua. Mas ela e a senhora Beta, esposa do presidente do clube na década de 1970, Sérgio Goulart, iam para a janela convidar as pessoas para entrar no clube. “Fazíamos um cordão para trazer as pessoas para se divertirem conosco dentro do clube”, lembra Marilene. “No último dia de carnaval, a banda saia na
frente e dava a volta pelo jardim. Era uma corrente. Era muito legal”.

O espaço da clube tinha a mesa da diretoria e outras mesas para os foliões. O palco ficava no fundo. O mesmo lugar era utilizado durante o ano, principalmente nos domingos, quando Osório Filipe tocava a gaita de oito baixos para diversão dos frequentadores.


Não só no carnaval mas em outras promoções da diretoria, o clube era muito frequentado. De Tubarão vinham com frequência Edgar Lemos (rádio Tubá) e sua esposa Elisabete Zabot Lemos, Idalino Fretta, Ângelo Zabot, entre outros. De Pedras Grandes os mais assíduos eram Afonso Zanella (ex-presidente) e Jussa Lemos Zanella, Saul Fernandes e Aurora , Racine Ghisi e Romano Fachini, Bentinha Ghisi, Rubens Ghisi, Carmen Ghisi, Edenir Zabot e Ana Garbeloto Zabot, Adelfo Filippi e Marilene, Sérgio Goulart e Beta, Antônio Felippe e senhora Brolese, Lourival Rodrigues e Armeli, Antônio Rodrigues e Letícia Cavalcanti Rodrigues, Rodinei Ghisi e Teresinha Bento Ghisi, Nirbal Zaboti e Rodiva, Nirlei Zabot, Hidalgo
Cunha e Zuma Felippe Cunha, Antônio Afonso Felippe e Chiete, Edgar Cunha e Leopoldina, João Marcon e Jandira, Otávio Marcon e Noemia, Araújo Marcon, entre outros.

A COMEMORAÇÃO DO CENTENÁRIO

Pedras Grandes comemorou em 2007 os 100 anos do 12 de Outubro com uma solenidade nas dependências do próprio clube, na noite do dia 11, antecedendo o baile com a Banda Matusa. Era prefeito na ocasião Romário Ghisi. Foi feita uma solenidade muito prestigiada, com o clube lotado.
Foram homenageados sócios honorários como Lourival Rodrigues, Raul Guisi, André Antônio Felippe, Iêda Martins Felipe (recebeu pelo marido Osório), Adelfo e Adelfinho Filippi. Após a entrega de diplomas, foi cortado o bolo de aniversário e cantado o parabéns para a sociedade.

Os festejos do centenário prosseguiram no dia seguinte com baile com Brasilian Boys e no dia 13, encerrando a programação, jantar dançante com apresentação da família LLD (Leia, Ladi e Dalvan). Na então diretoria estavam Luciano de Faveri, Fernando Marcon, Daiane Filippi, Cheila Felipe e outros.


O CLUBE 12 HOJE

Nos últimos anos, a tradicional sociedade pedras-grandense, fundada em 1907, permaneceu adormecida. O clube não fechou as portas, mas as atividades ficaram restritas a Sinuca, Ping Pong e uso eventual pela comunidade. Na década de 2010 chegaram a ser realizados alguns bailes no local.

Nos últimos dez anos funcionou no local a lanchonete e restaurante administrado por Adriano
Tavares. Em 2021 uma nova diretoria assumiu a sociedade, regularizando a situação estatutária. A nova diretoria é composta por Marcelino Marcon (presidente), Alexandro Quarezemin Pituxo (vice-presidente), José Fabro (1º secretário), Daiane Filippi (2ª secretária), Cassiano Bento Ghisi (1º tesoureiro), Eduardo Bressan (2ºtesoureiro), Luiz Fernando Fornaza, Luciano de Faveri (conselho).

A nova gestão municipal, liderada pelo prefeito Agnaldo Filippi, que assumiu em 1º de janeiro de 2021, passou a incentivar o renascimento do clube. Voltou a ser realizado o baile de aniversário, na véspera do dia 12 de outubro de 2022. Projetos estão sendo desenvolvidos para restaurar o prédio e novos eventos estão no planejamento para o futuro.