Moradores e negócios sofrem com trecho não concluído e sinalização confusa
Perto de um dos cartões postais do Brasil, erguido com técnicas inovadoras de construção, cerca de 250 metros não concluídos de via marginal da BR-101, nas imediações da Ponte Anita Garibaldi, ameaçam o fechamento de empresas e colocam em risco moradores e a situação econômica de Pescaria Brava. Acesso fechado, travessias irregulares e sinalização conflitante agravam o problema que atinge diretamente 850 famílias e uma dezena de negócios.
Para evitar a quebra de estabelecimentos comerciais e poupar a vida de trabalhadores e estudantes que se arriscam na rodovia, uma comissão formada por moradores, lideranças locais e vereadores encaminha, nesta terça-feira, pedido para que a Agência Nacional de Transportes Terrestres – ANTT encontre solução emergencial para que a CCR Via Costeira, concessionária da estrada, finalize o trecho.
De acordo com o consultor de empresas Manoel Carlos Nola, antigo morador do município e integrante da comissão, desde o início do funcionamento da Ponte Anita Garibaldi, comerciantes e a população do bairro Laranjeiras, o segundo maior de Pescaria Brava, amargam prejuízos e sofrem com o que consideram um erro grave na conclusão do projeto da rodovia. Primeira ponte estaiada em curva do Brasil, que possibilita o escoamento de mercadorias para o Centro do país e facilita a integração comercial com os países do Mercosul, a Ponte Anita Garibaldi foi entregue em 2015, junto com o atual traçado da BR-101.
Já naquela ocasião, moradores perceberam a falta de conclusão da marginal no sentido sul norte, no quilômetro 316, próximo à ponte, mas não tiveram suas reivindicações atendidas. A falha é agravada pelo fato de que, do lado oposto, não há via marginal, em função da lagoa. No bairro, além das residências, está localizado um cemitério regional, igreja, posto de saúde e cerca de dez estabelecimentos comerciais, como peixaria, mercado, barbearia, restaurante, loja de pedras decorativas e agropecuária. Vice-presidente da Câmara Municipal, o vereador Leandro Francisco (MDB) está à frente na comissão. Disse que, em julho, receberam da concessionária a informação de que, até 2025 não há previsão de orçamento para conclusão do trecho, questão que pretendem resolver com o governo federal.
Sinalização conflitante confunde motoristas
O erro é perceptível na sinalização conflitante no asfalto e ao lado da pista, no limite com Laguna. Junto ao único viaduto na divisa dos bairros vizinhos, Ponta das Laranjeiras e Bananal, em determinado trecho, a pista afunila, uma das mãos do tráfego acaba, com a indicação de parada no meio da via, e, logo adiante, a marginal desaparece, impedindo que ônibus e carros possam acessar o lado mais populoso do bairro Laranjeiras, que fica isolado.
Motoristas que vão no sentido sul norte utilizam irregularmente o acostamento, coberto por tachões, na tentativa de fugir do trânsito intenso da BR. Já quem vai de Laguna ao bairro Laranjeiras, em Pescaria Brava, fica sem opção. Tem de dar meia-volta e ir até o bairro seguinte para retornar.
Proprietário de uma barbearia, Hugo Guler trabalha e mora na marginal em frente ao trecho em que a via acaba no sentido de quem vai de Pescaria Brava a Laguna. Ele conta que precisa percorrer trajeto de 6 quilômetros diariamente para cruzar a BR e conseguir deixar o filho na escola, localizada no mesmo bairro.
“Se fecharem o túnel, ficamos isolados”
Moradora do outro lado da BR, Benta Goulart testemunha diariamente a luta de pedestres e motoristas para acessarem a rodovia. A casa de Benta fica em frente ao único túnel sob a estrada na região. Por ele, passam pessoas, carros e motos, dividindo o mesmo espaço para passagem, apesar de uma placa avisar que é proibido o acesso de veículos. Mas, “se fecharem o túnel, ficamos isolados, e a turma de cima, então, como fica?”, pergunta Benta, preocupando-se com moradores do lado mais populoso do bairro, onde mora há quase 70 anos.
Outro problema grave é que, para que moradores possam ter acesso ao ônibus que vai de Laguna a Tubarão, uma fenda foi aberta na mureta em um dos lados da rodovia. Do outro lado, o risco é ainda maior, já que alguns precisam pular a mureta para atravessar a BR-101 – o vão que há entre as muretas foi projetado para o escoamento de água da pista, não para a travessia de pedestres.
Por causa da falta de ônibus na parte mais habitada do bairro, que é cortado pela BR, a pedido da população, o acesso principal à localidade foi alterado pela CCR Via Costeira. Entretanto, o que os moradores não esperavam, é que, com a abertura do novo acesso, a concessionária fechasse o antigo, o que acabou acontecendo. Com a mudança, comércios à beira da BR-101, que eram ponto de parada para motoristas, foram prejudicados.
Venda de peixe pela internet para não falir
Dona da peixaria Nicolas, Bruna Assunção Cardoso teve de migrar para outro ramo de negócio para não falir. Como os clientes não conseguem mais ter acesso ao estabelecimento da família, ela abriu uma loja de utilidades domésticas nos fundos da peixaria. Nas lives que faz para oferecer os produtos da loja, aproveita para vender peixes pela internet para a vizinhança, com entregas no dia seguinte.
“Desde que tiraram o acesso à BR, o movimento da peixaria caiu 80%”, diz Bruna. A comerciante afirma que ela e o marido só não fecharam o negócio ainda porque têm esperança que a comissão formada no município para cobrar do governo federal e da concessionária a conclusão da marginal e a reabertura do acesso consiga resolver a situação.
Vizinha da peixaria, há mais de 10 anos Rita de Cássia da Silva Eliseu mantém comércio de pedras decorativas no mesmo local. Ela conta que, com o fechamento do acesso pela CCR Via Costeira, os clientes que passam pela BR-101 não entram mais na sua loja. Indignada, Rita vai até a beira da estrada para mostrar que o asfalto foi retirado e uma vala foi aberta para impedir o acesso de carros. Embora a sinalização em função do antigo fluxo ainda permaneça no local, confundindo motoristas.