Seis suspeitos de integrar o grupo, entre eles estudantes da UFSC, foram presos na ação da Polícia Civil; UFSC diz repudiar toda e qualquer ação racista
A Polícia Civil de Santa Catarina deflagrou na última quinta-feira (20), uma operação que culminou na prisão de seis jovens suspeitos de integrar uma célula neonazista. Eles têm entre 20 e 27 anos.
Os integrantes do grupo são investigados por integrar a associação criminosa armada dedicada à produção caseira de armas de fogo e à prática de crimes raciais.
Em encontros, além de produção de propaganda para fins de divulgação do nazismo, realizavam rituais de culto à doutrina Hitlerista, nos quais os criminosos se autointitulavam “a nova SS de Santa Catarina”.
Seis mandados de prisão temporária e sete mandados de busca e apreensão foram cumpridos nos municípios de Florianópolis, São José, Joinville, Maravilha e São Miguel do Oeste.
Investigação
A investigação iniciou em abril deste ano, quando um dos integrantes da célula nazista foi preso por tráfico de drogas em São Miguel do Oeste. Na casa do suspeito foram identificados objetos de cunho nazista que levaram a polícia a uma apuração mais aprofundada.
“A partir da prisão em abril, a equipe percebeu que havia elementos de atuação de neonazistas e por isso demos continuidade à investigação para se aprofundar nesse quesito. Chegamos então a outros cinco suspeitos”, disse o delegado Artur Lopes da Deic (Delegacia de Repressão ao Racismo e a Delitos de Intolerância da Diretoria Estadual de Investigações Criminais), responsável pelo caso.
O inquérito policial revelou que a célula se reunia em um sítio, utilizando coletes e peças réplica de uniforme nazista, para a realização de treinamento com armas de fogo e discussão sobre ideário antissemita.
Ainda de acordo com o delegado, foram achados vídeos dos encontros entre os integrantes que mostravam a produção de material para divulgação do neonazismo e porte de arma de fogo ilegal.
“Os integrantes acompanharam a fabricação e montagem de uma arma de fogo por meio de impressora 3D”, apontou o delegado.
O item foi apreendido em abril na casa do primeiro suspeito detido em São Miguel do Oeste. Na ocasião, também foram apreendidas peças de arma de fogo já impressas e bandeiras supremacistas.
Na ação da semana passada, além das prisões efetuadas, foram apreendidos diversos materiais de cunho nazista e extremista, como livros, bandeira e outros objetos que estampavam a suástica.
A operação foi batizada de “Gun Project” em alusão ao nome do grupo virtual em que a célula neonazista discutia e acompanhava a produção de peças e montagem de armas de fogo, bem como formas de aquisição de munição 9 mm.
O que disseram os detidos
Conforme o delegado Lopes, os seis detidos tentaram amenizar os crimes. Alguns alegaram interesse por tradições germânicas e História. Outros confessaram o interesse pelo revisionismo nazista, mas disseram que não tinham a intenção de causar mal a ninguém.
“Todos eles tinham manifestações recorrentes contra nordestinos, negros e homossexuais. O discurso de ódio era prática constante dos investigados”, apontou Lopes.
Estudantes da UFSC entre os presos
Entre os suspeitos detidos na operação policial de combate ao neonazismo, estão estudantes da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). A instituição emitiu nota no final da manhã desta segunda-feira (24), na qual diz que “oferece colaboração para o total desvendamento e punição a este crime.”
A UFSC disse ainda que “solicitará às autoridades informações sobre os estudantes presos, para a adoção das medidas disciplinares cabíveis” e “repudia toda e qualquer ação racista”. (Veja a nota completa abaixo)
Nas redes sociais, internautas e estudantes da universidade se manifestaram sobre a operação da Polícia Civil. “Líder de célula neonazista em SC, morador de Florianópolis e estudante de letras da UFSC, na UFSC!! ISSO MESMO!!”, diz uma postagem.
“Tem que pressionar a reitoria pra expulsão deles, só de pensar que vou sair de Recife pra fazer o vestibular da UFSC me dá muito medo”, comentou outra.
A Administração Central da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tomou conhecimento através da Imprensa do envolvimento de estudantes com movimentos neonazistas. Ao tempo em que cumprimenta a ação da Polícia Civil na investigação, oferece colaboração para o total desvendamento e punição a este crime.
De sua parte, a UFSC solicitará às autoridades informações sobre os estudantes presos, para a adoção das medidas disciplinares cabíveis.
A Universidade também reforça que a Ouvidoria mantém canais para recebimento de denúncias, com a finalidade de mapear qualquer indício de redes neonazistas na UFSC.
Em outras frentes de atuação, a UFSC informa que o Conselho Universitário, em sessão realizada no dia 11 de outubro de 2022, aprovou uma moção de repúdio ao racismo, após o relato de casos ocorridos em Unidades Acadêmicas.
Uma política de enfrentamento ao racismo, construída em colaboração com entidades estudantis e representantes do movimento negro, será levada a consulta pública no início do mês de novembro, sendo posteriormente apresentada ao Conselho Universitário.
A UFSC repudia toda e qualquer ação racista e que atente contra os direitos humanos e o patrimônio ético, científico e cultural da instituição.
BRUNA STROISCH, FLORIANÓPOLIS – PORTAL ND MAIS