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Operação Mensageiro: entrega da propina foi articulada com SMS, WhatsApp e encontros, diz MP

Política

Comunicação do operador do esquema com agentes públicos foi se alterando durante evolução das investigações

Os prefeitos e agentes públicos citados pelo MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) na Operação Mensageiro, que apura esquema de corrupção na coleta de lixo em municípios catarinenses, seguiam regras rígidas para receber a propina. É o que apontam documentos da investigação obtidos pelo Grupo ND.

Fotos do MPSC mostram suposto pagamento de propina a Jeferson Luis Rodrigues, vereador e filho do Prefeito Municipal de Balneário Barra do Sul – Foto: Reprodução/NDFotos do MPSC mostram suposto pagamento de propina a Jeferson Luis Rodrigues, vereador e filho do Prefeito Municipal de Balneário Barra do Sul – Foto: Reprodução/ND

Informações  da investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) dão conta que 13% do valor de cada licitação era desviado pelas administrações municipais. Em cinco anos, a Serrana – empresa prestadora de serviços – recebeu R$ 354 milhões em contratos.

Acordos garantiam preferência à Serrana

Conforme o MPSC, o acordo entre os envolvidos incluía a garantia de que a empresa seria contratada antes mesmo de ser aberta a licitação para os serviços de coleta de lixo. A manutenção do contrato, o reajuste dos valores e o acréscimo de benefícios era igualmente pré-estabelecido entre a Serrana e as administrações públicas.

O superfaturamento dos valores dos serviços fazia parte das condições do arranjo, aponta a investigação.

Todo o esquema de pagamento de propinas seria viabilizado por um funcionário da Serrana, conhecido pelos agentes públicos como o “Mensageiro”, função que deu o nome à operação do Gaeco.

Comunicação via SMS, com frases curtas

A função exclusiva do funcionário da empresa Serrana seria a de realizar os pagamentos aos agentes públicos. Para isso, os envolvidos seguiam uma rotina de cuidados específica, que segundo a investigação do MPSC foram evoluindo para que o crime não fosse descoberto.

Inicialmente, os agentes públicos e o “Mensageiro” só poderiam se comunicar por meio de SMS rapidamente para confirmar os encontros. A primeira mensagem era enviada exclusivamente pelo funcionário da Serrana, que orientava que o receptor do dinheiro usasse respostas curtas, como “ok” ou “não tô”.

“Não há espaço no combinado para conversas fiadas, amistosas ou eventuais banalidades, trata-se de ‘profissional’ mecanismo em que somente há o encontro e a entrega da propina, de forma fugaz”, afirma o documento do Ministério Público.

Celulares passaram a ser desligados

Ainda conforme o GAECO, cada iniciativa tomada na investigação era respondida com uma mudança na forma dos pagamentos de propina.

O “Mensageiro” passou a usar linhas telefônicas alternativas e revezar entre SMS, ligação e mensagem por WhatsApp. Outra estratégia seria desligar o pacote de dados do celular ou até mesmo os aparelhos antes de chegar nos pontos de encontro.

Gaeco fotografou encontro

Fotos que constam no processo mostram, segundo o MPSC, o pagamento feito do “Mensageiro” para Jeferson Luis Rodrigues, vereador e filho do prefeito de Balneário Barra do Sul, Antônio Rodrigues. Ambos foram detidos em dezembro e seguem em prisão preventiva.

As imagens mostram o vereador com o carro ao lado do veículo do mensageiro, saindo do veículo do “Mensageiro” e entrando no próprio automóvel. De acordo com a investigação, as fotos comprovam o modus operandi do esquema criminoso.

Em nota enviada ao Grupo ND, a defesa de Antônio Rodrigues disse que aguarda o resultado do pedido de habeas corpus no STJ (Supremo Tribunal de Justiça). Em dezembro, a corte negou pedido de liberdade os dois.

O que dizem as defesas dos envolvidos

Por telefone, Renato Boabaid, advogado do “Mensageiro”, diz que não irá se manifestar sobre o assunto.

Por nota, a defesa de sócio da empresa Serrana – considerado pelo MPSC o autor da maior parte das propostas aos prefeitos – disse que:

“O Grupo Serrana, por meio do seu advogado Dante D’Aquino explica que: ‘Os processos correm em segredo de Justiça e, por esse motivo, não podemos nos manifestar a respeito do conteúdo’”.